L'a Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens.

Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.



domingo, 29 de agosto de 2010


O tempo é a eternidade.

sábado, 28 de agosto de 2010

Antepassados oradores

Na serra perdem-se os caminhos
saltam-se muros
pelas pedras avança o rio
que é o céu correndo destinos

por entre musgos e minérios
as árvores são outonos
no coração o tesouro
de falos em flor os patronos

no templo, forno, gruta, anta
se alquimizam rostos sem rasto
a escuta dá-lhes o negro e o abrigo
e no denso nocturno cada gesto é oração
e do fundo onde é fundo irradia o Abismo.

(Convento dos Capuchos, ao entardecer)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Guardar na escrita, como num abrigo, suspiros e suspeitas ao vento,
maravilhas da solidão no deserto estranho do próprio íntimo a ser percorrido.
Tudo se perde para o reencontro.
















quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Setembro está a chegar.
Nas tardias noites de Julho e nas manhãs de Agosto tardio se anuncia.
Todos os entardeceres são setembrinos. É o sete a operar,
nas uvas o pintar,
nos figos o melar, na alma o dealbar.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Agora que o sol te encontra a fronte
é que se vê como nasce a noite nas dunas ao vento.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Claustro

Ardem-te os olhos de fogo e adeus
o que derramas é da coroa
o que te cobre rosas vermelhas, ao mais fundo vale dos silêncios,
leito, sangue e hóstia no teu íntimo e único sacrário.

Ouras no templo, cálice, cripta
és o arquitecto, a espada, a cruz e a pena
e és virgem, viúva e benta.

Secreta na solidão as rosas ofereces
és a saudade na espiga
és o claustro,
e nos oito raios perdida te reencontrarás Pomba.

(Claustros da Catedral de Salamanca, ao entardecer)
Quando a morte nos acerta
e se nos alvorece
sabemos a não memória
sabemos tudo.

iniciação

despe o manto em que escreves a vida
e volta-te.
prosseguirás sem leitura;
devolvido à nudez cantarás a lança disparada dos sonhos
e o uivar dos lobos nas noites, cheias, de sombras;
desvelarás as plumas.
onde sobrevoares aterrarás,
o teu olhar atravessará tudo o que vê
penetrarás tudo o que tocas
e nessa travessia não saberás regresso.
de paixão primordial

Aos primeiros cabelos brancos
seu coração rejubila

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O que se inscreve do roseiral
é o que me empurra para o derradeiro perfume.
A cada olhar um pouso
uma aparição do que ouço
pela mão me traz a sombra
e o rasgo, um dorso do qual caio
dou por mim outro caminho.