Era ali debaixo daquela ponte junto ao pilar onde ele ía pescar, levava a cana e a linha mas não era para apanhar peixe, apenas tempo, apanhava-o no gesto de lançar a linha ao rio, que era dourado, e no sentir a corrente das águas, que são canções imemoriais, a entoar pelas suas mãos a todo o seu corpo. Para lá chegar havia uma outra ponte que tinha de atravessar a pé e cada vez que o fazia o céu escurecia, trovejava e coriscava, a ponte abanava, ele hesitava, depois chovia, o que o acalmava, e continuava até à outra margem, altura em que o céu se abria. Depois descia pela encosta para se ir sentar a pescar o tempo. Do outro lado do pilar, às vezes, estava outro pescador do tempo, sentada, a seguir por outras linhas aquelas águas, lia.
Chovia muito quando se encontravam, quando se encostavam ambos ao pilar, cada um do seu lado, acontecia-lhes um estremecimento.
Havia uma terceira ponte.