L'a Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens.

Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.



domingo, 17 de novembro de 2019





a miragem do tempo confirma a sua passagem, o passado é presente a tempo de agora, porque é tempo agora do tempo que não se foi, que é guia para o futuro passado, a serpente vai morder a cauda, vai, e está, está, não pela primeira vez, não pela última vez, não em progressão, não em feitiço ou prisão, realizado o tempo do viver e morrer os tempos



'Ela





na improbabilidade se ajustam contas

quarta-feira, 13 de novembro de 2019


Caiu-me do céu
ou caí eu.



neste lugar borbulhante como as águas na nascente, acerto as horas a zeros, meu sempreIrmão que me eternas.

terça-feira, 5 de novembro de 2019



vou já nesta chuva que me termina e assina, ponho o casaco sobre os ombros, desfazem-se todas as cartas, regressas-me

quarta-feira, 30 de outubro de 2019



reapareço no corpo, o movimento é inicialmente o de uma vastidão a condensar-se, sem se distanciar ou romper
a consciência, não eu, observa-se a estreitar-se, a penetrar-se de uns sentidos, a habitar-se de uns tempos, plásticos, fluidos, que aparentam ser intransponíveis apenas para darem passagem
a outros tempos

| acordar é uma maneira de falar |

segunda-feira, 21 de outubro de 2019



afino das mínguas a saudade, vestal corpo ao sol, casta só até antes de o mar me tocar

| livro das horas |

segunda-feira, 14 de outubro de 2019


difícil é o desengano, a verdade não.

terça-feira, 1 de outubro de 2019



Vou ali reunir com uns antepassados, a ver se me fazem um desenho.

terça-feira, 24 de setembro de 2019



Segurava uma estrela de 5 pontas, procurava um livro filosofal num alfarrabista, para o pedir tive de o dançar, não tinham, mas tinham um livro de viagens.

| sonho 49 |



O encontro é inestimável e secreto seja qual for a revelação

segunda-feira, 16 de setembro de 2019



da quietude à quietude, o mundo.


terça-feira, 10 de setembro de 2019




dá nome às impossibilidades, não as mates
inteira-te nas partidas, segue a fome




terça-feira, 6 de agosto de 2019


Amanhecer é mais forte do que eu.


Se olhares muito para a montanha, a montanha começará a olhar para ti

segunda-feira, 22 de julho de 2019





Tive a sensação nos lábios do beijo na tua pele, pensei que sonhava acordada, afinal eu estava acordada no sonho, encostada a ti, olhávamos o céu; sussurraras-me junto ao ouvido esquerdo que tinhas lançado as cinzas em cima da cama, o soar do teu coração tocava todo o meu corpo, disse-te que as cinzas na cama me parecia um altar da fénix.

| sonho 30 |

quinta-feira, 18 de julho de 2019


Havia dias em que sabia que o olfacto lhe ía matar a inocência, benzia-se antes de sair de casa, os cheiros levavam-na a limiares, apareciam-lhe mundos inquestionáveis, desaparecia de um e de outro em redemoinho, uma angústia.

quarta-feira, 17 de julho de 2019






o tempo a morrer devagar, macio, num jejum jubilar, estelar a lama de curar


segunda-feira, 8 de julho de 2019




o Tempo, e voltar

Antes de abrir os olhos eu não estava aqui. Voltar aqui foi uma subida, pelo escuro, primeiro surgiu um som, depois uma imagem que veio pelo som, depois o corpo, o meu, e logo a onda do mundo me voltou onde sou particularmente animada. Observo que o mundo progride do som ao corpo, e finalmente à luz, e que aparece e desaparece, que sobe e desce, que abre e fecha, que do escuro se faz luz e vigilante o sono, que da indiferenciação brota a diferença. O mundo será o mito ou o símbolo desse destino de onde se cai para se voltar, que nunca se perde. O tempo é-nos recobro do espanto de nos vermos invisíveis ou, o que é dizer o mesmo, mortais.
O que aconteceu e não aconteceu para eu voltar. No momento em que o mundo me volta torno-me submundo, entrecortada a luz, e sei, quando desescurecida, que voltei a cair, que não sou de aqui e nem de além, e nesta inquietação me sossego.




tempo, logo mistério. 



Quando o discípulo está pronto, o mestre desaparece.

terça-feira, 25 de junho de 2019






Todas as palavras repousam o corpo de um outro lugar


terça-feira, 18 de junho de 2019



a correr nos atrasamos







Júpiter abriu os olhos, viu-se no lugar do corpo, o corpo, nebulosa de insuportável luminosidade e negrura, fractal, distância destinada a fronteira, a velhice, para o inteiro, ressurgido, não regressado, na divina noite, ensanguentado, de si, imortal.


sexta-feira, 7 de junho de 2019





ao sol se queimam os sonhos, o rosto despido das chuvas, caminhante, os irmãos velam nas encruzilhadas


segunda-feira, 27 de maio de 2019


a mulher de rosto ao céu, agora aos olhos as águas, descoberto o sonho, veste-se dele, despe-a ele, antes, antes de a noite a levar.




Primeiro foi a explosão do areal e logo o mar em tempestade diluvial, veio o abismo e a urgência da queda, foi a perda, foi a agonia e por fim o choro. Não se imagina a luz, não se imagina.


| sonho 43 |

segunda-feira, 6 de maio de 2019


Antes de chegar aqui sonhei que estava neste lugar. Agora que aqui estou é um outro lugar, um outro plasma, um outro véu. Este contínuo desaparecimento





recordar é depois, acordar é antes de





o cuco foi o primeiro.


quarta-feira, 24 de abril de 2019



Este embaraço de refrearmos o rio, que nos leva somente para nos selar o ir, descobre-nos, desfeitos, à vista de abismos, movimento e eternos. Este medo de não libertarmos a morte, de sermos as correntes incertas, para, enfim, o salto, amoroso, imperdível, original, nEssa inconcebível plenitude




terça-feira, 16 de abril de 2019



todos os céus, todos os pássaros, os anos de cela, os anos de ti, a espera, o morrer, a cada amanhecer me desconheço








beijo esta pedra


sábado, 6 de abril de 2019



Love it be


quinta-feira, 28 de março de 2019



'Ela


quarta-feira, 27 de março de 2019



um som uma mudez circulando circulando-me um acordar uma corda



primeiro, o primeiro alvor, depois os pássaros, os voos e as letras, o Tejo a transcorrer-me, e a barca, aquela barca

| livro das horas |

terça-feira, 19 de março de 2019



é do anseio de sombra que irradiamos como ruínas majestosas a desaparecer ao drama da luz

terça-feira, 5 de março de 2019






ao corpo e à morte por vastos e inconcebíveis nos prendemos a imaginá-los

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019



vigoroso silêncio das ondas da noite, o respirar do céu, sorri o anjo ao morder-me

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019



das duas, uno
és quieto e inconstante humoração, não há escolha, é uma liberdade.

sábado, 9 de fevereiro de 2019



Quando partes, ficas.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019



Orar é selvagem



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019



Só há tempo para ser inteiro


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019



um raio iluminoso do céu por entre os galhos sombrios me entreabre os lábios de fome a sonhar-te




Orar é humano


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019





por este céu em que somos a terra nos desfolha os olhos


sexta-feira, 25 de janeiro de 2019






demoras-te mortalmente


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019


é no impossível que tocamos a eternidade




Deixa morrer a vida para poderes viver




Estas brumas devolvem-me a vós, meus irmãos, minhas vidas de morrer, anelo e fôlego, meu íntimo.





Por estas colinas a noite é a pérola do sol, juntam-se os pássaros ao rosar dos céus e no rio uma nocturna inquietação promete penetrar a manhã, lúcida, as árvores são o coração dos sonhos, macio da tempestade, a noite arrisca adentro o homem o longe e o sangue com a força dos tempos, das leis, cobrem a cidade, as brumas.