o Tempo, e voltar
Antes de abrir os olhos eu não estava aqui.
Voltar aqui foi uma subida, pelo escuro, primeiro surgiu um som, depois
uma imagem que veio pelo som, depois o corpo, o meu, e logo a onda do
mundo me voltou onde sou particularmente animada. Observo que o mundo
progride do som ao corpo, e finalmente à luz, e que aparece e
desaparece, que sobe e desce, que abre e fecha, que do escuro se faz luz
e vigilante o sono, que da indiferenciação brota a diferença. O mundo
será o mito ou o símbolo desse destino de onde se cai para se voltar,
que nunca se perde. O tempo é-nos recobro do espanto de nos vermos
invisíveis ou, o que é dizer o mesmo, mortais.
O que aconteceu e
não aconteceu para eu voltar. No momento em que o mundo me volta
torno-me submundo, entrecortada a luz, e sei, quando desescurecida, que
voltei a cair, que não sou de aqui e nem de além, e nesta inquietação me
sossego.