Luíza Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens.

Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.



sexta-feira, 27 de maio de 2016


a mentira ferve de verdades.

segunda-feira, 9 de maio de 2016


A vida é já o silente grito de um pós-terra. De um depois que é antes, presença original rebentadora !

segunda-feira, 2 de maio de 2016


Na montanha deserto a chama no céu da noite,
nas brumas nocturnas rosa o desejo da coroa,
lascívias do sono nos limiares da pantera,
o bramir das sombras, pássaros, luz,
e no silêncio
o uivar da flauta.


| the silent flute


sexta-feira, 15 de abril de 2016

águas de abril



chove sobre a vinha e as árvores, chove sobre as terras e os vales, sobre as rochas e argilas, chove sobre os pássaros e os cães e as flores, chove sobre a minha cabeça, chove sobre os rebentos e os verdes e os ribeiros e as cinzas.



sexta-feira, 25 de março de 2016

in extremis



Filho !
benze a virgem seu vinho, púrpura paixão, amor,
chaga florescente, a poda
cai o céu !
Maria suspensa ante o rapto fogo santo.



terça-feira, 22 de março de 2016



luz à terra de luz, espírito santo na seta ao peito
o tremor das cinzas, o cálice, beijo teus pés.

quarta-feira, 2 de março de 2016



acorrenta-me a serra. acorrenta-me à serra.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016


no peito suspensas as sacras águas
baptismo no deserto névoas da paixão
luz eterna, íntima sede, virá a pomba
o sopro da trindade, imortal reaparição.







quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016



húmida noite, o mar vindo, névoas e silencio,
idos passos aqui, na pele jazem sonhos de nós,
nus beijos ante o céu de fundos véus, nossos clarões. 



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016







meio dia,
sobre as águas, límpidas e cinzentas
chega o cântico dos sinos,
ave Maria.
 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

noite de reis



pai solar ventre mater
corpo de luz temperar
noite magma, fundura
reis, irmãos e ouros.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015


Se te apressas a viver não chegarás a tempo de morrer.


O mistério é uma intimidade. 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

natal


nascer é nivelar o tempo ao imemorial,
irromper no instante o sopro que incandesce no corpo o descarnar.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015


despir e entrar, mar 
sal, o corpo trovar
auréola vermelha,
o pélago azul lambe sua cria.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015



a loba cheira os musgos da montanha,
na cópula a nebulosa estelar, árvores caídas
agreste soberania dos céus, das terras, das águas, do cio,
anjos nos odores e vertentes, os nus dos vales e torrentes.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Totem


na nocturna montanha tua majestosa aparição
pelos vales verdes de luar a luz do teu uivar
as estepes, templo ao azul, à terra, ao chorar, 
ao clarume, oh doçura fera, fumo da vastidão. 


sexta-feira, 27 de novembro de 2015


teu rosto é uma esfinge,
terna nocturna de sonho, 

cheiro de abismos, luz
teu coração, meu coração.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015


naquele arbusto os melros esperavam
chegaram as pombas

eles cantaram o pão, 
elas, de saia de roda, vermelha, dançaram as bagas,
toda a noite o fogo e a lua.


quarta-feira, 25 de novembro de 2015


Aura lunar, o halo da medula
céus e paixão, respirar.


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

ao entrar no jardim
um cheiro a mar
e logo os melros,
e a floresta.


sábado, 14 de novembro de 2015


inclinam-se as árvores,
a montanha penetra as sombras
húmidos verdes dourados sob o azul outonal
encantado mato, as heras, os penedos, os musgos, os trilhos das chuvas.

terça-feira, 3 de novembro de 2015


mar, oh mar, veste que me despe
tuas marés, a lei, meus pés a voar
corpo água, as gaivotas a gritar
mar que me ensinas, e apagas do areal.




Todos os obstáculos apontam caminhos.



sábado, 31 de outubro de 2015


samhain

é na morte a vida de todos os céus
antepassados, oh anciãos amores
em meu sangue os vossos, os ossos, os humores
as fogueiras, os cedros, as macieiras
o fumo das taças, das entranhas, fulgores -
ao rubro nas vénias outonais a aura dos ancestrais.



quarta-feira, 28 de outubro de 2015












Ao primeiro olhar um súbito e iminente limiar, o da anterioridade, interior ao olhar, remoto abismo do alumbramento, a aparição do que não morre. É tão invisível que é impossível não ver.