Luíza Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens.
Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.
O que mais se encaracola, a escada ou nós?
ResponderEliminarQuando subimos pela escada, será que a escada desce por nós?
Muito Caro,
ResponderEliminarDigo que ao subir se desce, e que ao descer se sobe, do cimo ou do imo.
Pois eu não desço nem subo. Aquieto-me. Espero, como Rilke das janelas, o que me admirará saindo ou netrando pela porta.Pode ser que não desça nem suba...e seja alado.
ResponderEliminarsaudades e saudações aos dois.
Ao frescor da fonte de ambas venho eu aqui dessedentar-me.
ResponderEliminarO para-doxo do movimento é, creio, Luiza, ser-nos ele a "realidade" de algo que é (no limite) "inexistente", precisamente pela irrealidade de ele existir “fora” de nós.
Qual enguia escorregadia, é isso, concordo, que nos faz verificar que "ao subir se desce, e que ao descer se sobe".
É na insolúvel e insituável in-decisão "entre" o "cimo" e o "imo" – que como em "brincadeira" e "jogo" se permutam e mutuamente se nos disfarçam de todos os modos e todas as maneiras – que ocorre porventura aquilo a que, por força da nossa insipiência de linguagem, chamamos movimento ou, talvez melhor dito, as moções para-doxais do “imóvel”.
Eu creio, Isabel, haver um espanto, uma surpresa e uma alegria imarcescíveis no mistério da sublime afinidade “entre” a “imobilidade” meditante e a suspensão ínsita no evolar dançante.
Num e noutro, a aparente "contradição" intrínseca é o coração mesmo do que Há, sem qual nem quê: talidade disso que é sangue e seiva e leite e água que a tudo perpassa, nutre, peregrina e refulge.
É nesse “aí” sem lugar (porque o é de toda a possível e impossível visitação) que Rilke, parece-me, se ajanela e canta. Ali,...
“de repente neste penoso Nenhures, de repente
o lugar indizível, onde a pura insuficiência
inconcebivelmente se transforma –, e muda
nessa vazia demasia.
Onde a conta de muitos algarismos
Se resolve em zero.”
(“Quinta Elegia de Duíno”)
Tal como os degraus de uma escada, que nunca sabemos se [nos] sobem ou se [nos] descem.
Como em sempre “vazia demasia” de um tudo nada ...