Luíza Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens.

Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.



segunda-feira, 23 de julho de 2018



é manhã, de verão, as noites crescem, a brisa pendula as árvores, os cães ladram, já desço pelos degraus de terra para o lago, eis as alcachofras, a lavanda, as estevas, o alecrim, as formigas, os juncos, os ternos juncos, vou curar os pés nas lamas brancas e vermelhas, e vou-te largar ao sol a partir das águas, as rãs coaxam, entro.



com a mesma força com que me preenche me esvazia, amarra-me e devolve-me as cordas, este recobrado dos magmas início.


primeiro há o som, dentro, depois vários sons que sobem e se reúnem ao centro e se juntam corpo, é quando dou por mim, e, no meio de inúmeras e conectadas consciências, abro os olhos.

terça-feira, 3 de julho de 2018



O mundo sonhado e inexistente, o torrencial anseio, aperto, grito e mudez, paz, glória e desespero, a janela, a casa e a rua, Álvaro e todos sem camisa, a arrepiante irmandade num divino poço para o abandono ao universo sem ideal nem esperança.

| Tabacaria revisited |



Clareia a manhã, regresso ao canto dos pássaros, os melros são os primeiros a aparecer na calçada, o galo ainda dorme, as tílias estão ao rubro, inebriantes noite e dia, o tejo e o céu rosam as brumas na forja do sol que agora apareceu incandescente e sobe,
quieto, quieto.





o tempo Aparece-me, surpreende-me numa inocência de espírito, para me levar às mutações, quero dizer, aos tutanos plásmicos das tessituras, quero dizer, ao tremendamente magistral corpo, desfere-me as transcendências de qualquer angústia a que me converto, desprende-me as alegrias.


O mar já embala a pele da serpente, veio buscá-la às areias para as águas cristalinas, num sonho indefinido.