Luíza Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens.

Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.



domingo, 31 de agosto de 2025

Acordar, uma errância

Procuro o elo que me desligue a percepção incompreendida da realidade de onde emerjo e da realidade onde chego, subita. A força que, por uma corda na roldana, exerce um largar para descer e um puxar para subir, como a um balde no poço. Atravessam-me duas inquietações: a memória que me apaga o tempo ao descer e desaperta para me reunir,  e a memória que me detém de olhos abertos a suportar cada segundo de imagem, a reconstruir-me de passagens, assegurando-me  indefiniçōes e a metamorfose existencial. A subida e a descida recordam-me o erro, e este obriga-me a confiar, a escutar, obriga-me a sentir medo, como se o medo fosse um fulcro para poder aceder ao valor das imagens, à sua luz fundamental. Procuro a porta das imagens. Procuro conhecer o erro. O erro cura-me do erro. Qual o valor da imagem da porta aberta do meu quarto? Qual o valor da porta da minha casa? e o da ranhura da chave? Que chave é a chave?



 

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

 

Vimos do sol, temos na árvore a sombra que a luminescência agita e no poço, mercurial, a busca que nos confia pássaros no crepúsculo e anjos na noite de cada dia.
Basta adormecer, basta acordar, para se consumar o limiar, lugar claramente líquido e espesso que acolhe a mudança de campo e comprimento de onda e a fisicalização de imagens. Adormecer e acordar é primariamente salto, volátil portanto, e torna-se mergulho, de que regressamos a escorrer tinta em reorganização anamnésica. Para dentro e para fora, abrem-se os olhos numa vívida construção de mundos que é tempo, espaço, profundidade, estória, sinal e significação. Esta reunião de elementos imprime-nos fragilidades, dor, passagem, súbitas finalizações, e ressurgências, do sol. Memorial, o sol desmaterializa-nos para nos dar corpo - uma cintilante leveza de poderes, para recordar.
 
| linhas ensaísticas sobre a memória, vital |

 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

 Uma luminosidade imensa-me para Ti

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

 Estranha é a noite, por cavos escuros nos solta e acorrenta, sinuosos a ela nos consagramos, certos de que o lugar mais fundo é o alto, desse cimo no imo nos mergulha qual flecha que fere! de luz branca o imortal a que findam todos os caminhos.