o espírito escreve
sem que o gesto da grafia seja devido
Luíza Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens. Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.
na orla do morrer se espera nos limiares o leve e o bem as contas do colar ressoltas alam-se dores pés e amores.
naquela casinha à beira rio me retiro
por estas estradas fora ali é a viagem.
olhámos para o muro, sorrimos um para o outro
mãos pés pernas, e salto, chamámos os melros.
aos olhos sussurram o longe, a baleia, a gaivota, o mar, meu corpo perto.
na efervescência do entardecer o céu uma enseada
baixa a maré, baixa a noite, sobe a lua prosternada.
mulher que sobes as escadas as gaivotas no céu entorno perfume de cactos, palmeiras, buganvílias, e mar, o mar adentro o areal.
tocam os sinos à transparência do deserto
os pássaros escrevem as glórias da manhã
não há pecado, pecadores, nem desculpas
puríssima, tuas bençãos sobre nosso graal
despertemos em filho na unidade da pomba.
| Catedral de Almeria |
o inefável manancial do deserto.
os melros lá estavam à hora anunciada das
chuvas recostados, faces voltadas para o céu,
benziam-se naquele arbusto e luzidias pingavam as bagas
vermelhas.
invejaste-me, desejaste o meu lugar, pois agora aprecia, Damocles.