o espírito escreve
sem que o gesto da grafia seja devido
Luíza Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens. Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.
nesta floresta sopram de uma macia lonjura o saber das marés, do sol, dos pés no areal algas, aves e peixes, tombo de fundos e sal.
perde-te ao ponto de só te restar o encontro.
Édipo! destino paixão irmão sombra da realeza universal luz entrelaçada em pé ferido da queda eva fonte femininal enigma o além mãe e mulher à antígona trindade nosso pai.
esperas e horrores na torra das horas ruínas corpos feridas vidas lacrimadas das guerras vingue a iluminada deriva desejadas sejam a nudação e a graça inumerável zero, abundância prometida aos pés, aos pés, terra-ninguém, maria !
sábado, 2 de agosto de 2014
passos para o altar, o alter sobreiros a cúpula do vagar ao sol, as almas, à sombra no quieto a água e a messe.
ao fundo o portão e o guardião.
tu, Irmão meu, minha coroa de quem nasci e vim morrer por quem de amor me dotas dos partos nos antecipamos juntos a vida desaparecemos.
a loba abre as narinas à crista das espigas ao vento na descida ao rio por árvores azul penedos oh alento os cheiros destas terras e o hálito estival das serras tentam-na ao uivo nas ladeiras sob a invocada lua.
no corpo e sangue a luz e cálice, da vida inexpugnável sou e inascível o aperto, o dom, o ciciar dos céus, pó.
nudez o corpo, pouso e oferenda mãos, mudo enleio outono e éter a noite o beijo nos foge e encobre violino entre searas una despedida murmúrios luz vísceras nossa pele.