o espírito escreve
sem que o gesto da grafia seja devido
Luíza Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens. Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.
no invernar pinta a azeitona, desnuda a videira aos pés a folhagem, espinhos nos soutos o viço nos musgos, queimam geadas, o frio desata um calor nos cheiros dos campos.
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
templo n'água o entorno da sacra mãe, sangue, sal do tempo, o tempero escadas, a temperança, graças de céu.
sangramento lacrimal, ventre em derradeiro pranto, no íntimo luto a luz de Aparecida.
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
no fundo alento as mudas do espírito matriciais dores da desencarnação, o abandono, o âmago - Pai, porque me abandonaste ?
é na morte a vida de todos os céus antepassados, oh anciãos amores em meu sangue os vossos, os ossos, os humores as fogueiras, os cedros, as macieiras o fumo das taças, das entranhas, fulgores - ao rubro nas vénias outonais a aura dos ancestrais.
ar, fumo, o espírito em carne negrume luminescente brancura a dor, o dom fogo mudo, fogo tudo, ouro, ouro o ouro.