Luíza Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens.

Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.



quinta-feira, 28 de março de 2013


canto da amorosa morte,
no rosto os sulcos, corações a entrelaçar 
no olhar o brilho imortal
- cordeiro na travessia sacra, 
Pai !

terça-feira, 26 de março de 2013

Parsifal encostado à macieira
aguarda-te de cálice na mão
mergulhas ao fundo nas águas do lago 
unes-te à espada na rocha magma forjada, 
ressurges em brumas noiva vestal

segunda-feira, 25 de março de 2013


Toda a elevação se sublima na descensão.

sábado, 23 de março de 2013

inclino-me
desenrolo a minha voz mumificada
deponho todos os invólucros
aqui estou entre vós, irmãs árvores
livre e estrangeira na transparência do silêncio
nada nos satisfaz quando estamos satisfeitos.

sexta-feira, 22 de março de 2013



fiéis aos sopros em nossos corações
abeiramo-nos do meio sem meio, a via
rostos erguidos, de mãos amadas, 
na linha da navalha, promessa equatorial da irmandade
- invocação do equinócio

botão desta flor
grávida semente da semente em flor
pedaço de terra todo o amor
mulher, nu corpo, maríntimo
mênstruo, o perfume, o nicho
rio corrente do imperecível 
- contemplação d'amortal

sábado, 16 de março de 2013

o crepúsculo entranha-me as origens 
as árvores a intimidade, as nuvens o azul,
do negro ao rubro
pelos arcos, esquinas, campanários, telhados
o torno, o forno, o retorno 
passo a passo, ecos, os irmãos, a chuva
- perfume das flores nesta jarra.

quinta-feira, 7 de março de 2013



na tristeza que se instala está o divino que te abala.