o espírito escreve
sem que o gesto da grafia seja devido
Luíza Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens. Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.
canto da amorosa morte, no rosto os sulcos, corações a entrelaçar no olhar o brilho imortal - cordeiro na travessia sacra, Pai !
terça-feira, 26 de março de 2013
Parsifal encostado à macieira aguarda-te de cálice na mão mergulhas ao fundo nas águas do lago unes-te à espada na rocha magma forjada, ressurges em brumas noiva vestal
segunda-feira, 25 de março de 2013
Toda a elevação se sublima na descensão.
sábado, 23 de março de 2013
inclino-me desenrolo a minha voz mumificada deponho todos os invólucros aqui estou entre vós, irmãs árvores livre e estrangeira na transparência do silêncio
nada nos satisfaz quando estamos satisfeitos.
sexta-feira, 22 de março de 2013
fiéis aos sopros em nossos corações abeiramo-nos do meio sem meio, a via rostos erguidos, de mãos amadas, na linha da navalha, promessa equatorial da irmandade - invocação do equinócio
botão desta flor grávida semente da semente em flor pedaço de terra todo o amor mulher, nu corpo, maríntimo mênstruo, o perfume, o nicho rio corrente do imperecível - contemplação d'amortal
sábado, 16 de março de 2013
o crepúsculo entranha-me as origens as árvores a intimidade, as nuvens o azul, do negro ao rubro pelos arcos, esquinas, campanários, telhados o torno, o forno, o retorno passo a passo, ecos, os irmãos, a chuva - perfume das flores nesta jarra.
quinta-feira, 7 de março de 2013
na tristeza que se instala está o divino que te abala.