L'a Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens.

Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.



Os meus livros






















































Apresentação de Secriptos, ao entardecer de dia 10 de Março de 2014



Susana Chasse e Luiz Pires dos Reis











A apresentação do Secriptos por Risoleta Pinto Pedro


http://aluzdascasas.blogspot.pt/2014/03/secriptos.html

" Secriptos
...é um livro
de Luiza Dunas, Luiz Pires dos Reis e Susana Chasse

Porque é um livro a três vozes, em perfeita sintonia, como não muitas vezes nas edições acontece. É realmente um diálogo rigoroso entre o poema, a edição e a ilustração.

Secriptos tem algo de secreto. A criptação começa no título, um sol que irradia ambiguidades. O que promete. Porque a arte é tanto mais interessante, seja ela qual for, quanto menos literal a leitura. O título aponta para escritos criptados, mas inicia-se com um “se”… os dados estão lançados, tudo depende agora do… observador, do leitor, do poeta recetor dos escritos encriptados.


E assim são, estes escritos.

É uma poesia que me soa familiar. Porque a venho lendo e ouvindo há alguns anos, mas também porque ela é a Luísa, não há separação entre os secriptos e a secriptora.

Como edição é um livro delicado, quase frágil, tem espaços abertos e largos como dunas, folheia-se como o vento movimenta as areias, por isso não serei densa, mas procurarei respeitar a respiração dele.

Encontro aqui uma tripla beleza: nas palavras, nas ilustrações e na edição propriamente dita. Contenção sem secura, espaço com silêncio, silêncio sem mutismo.

Estamos num mundo do não óbvio.

O tom é ético à margem da moral, diria mais uma ética profética, como uma voz que vem de um fundo intemporal, do mais misterioso eco sem tempo. O “tu” não é próximo, é como a voz saída da sarça ardente e ao mesmo tempo a voz que escuta a voz da sarça, é um tu de quem nos conhece por dentro e por fora. Aqui o intimismo é o das almas que atravessaram muitas vidas e se mostram nuas a quem a tudo assistiu.

Esta poesia faz-me viajar para um tempo que está e sempre esteve dentro de mim, a uma verdade que não se diz em palavras mas que por elas é sugerida, como se tocassem na célula da revelação.

no terreiro a baga do cipreste, brasão lunar
o eco das orações nas pedras do templo
ajoelho-me de anoitecer.

Quando eu era menina havia uma misteriosa banda desenhada no jornal que o meu pai lia, que, pelas figuras hieráticas e quase místicas, me punha num estado semelhante ao efeito desta poesia em mim, o de contemplação pura, emoção sem nome, revelação sem saber de quê.

É uma poesia refúgio, consoladora como o Espírito. Em caso de emergência é sempre possível aqui nos recolhermos.

É quente e acolhedora de tão severa, séria de tão austera, reconfortante de tão alheia às ilusões.

Cada palavra é, ao mesmo tempo, uma lágrima ténue e um sorriso discreto. A infância é assim, delicada e impossivelmente intensa.

Não é uma poesia que procure novas palavras, no entanto novas palavras em estado de gravidez iminente encontram-na como campo preparado para a semente.

É quase impossível falar destas palavras, fazê-lo é como rescrevê-la, fazer uma cópia como quando era menina. Nem sei o que estou a fazer aqui, não falo da poesia, pela impossibilidade de o fazer, apenas vos revelo as minhas emoções.

Que se reveem no espelho destes versos: umas vezes como sussurro, outras como grito, às vezes como reverente silêncio que é oração. Ou haikai, uma forma de oração para pagãos.

Por isso calar-me-ei em reverência, após este poema da Luísa, que vos vou ler:

todos os dias o melro mirava-se ao espelho,
demorava-se a cantar.
um dia, ao pintar o bico de vermelho, caíram-lhe as penas.
riu-se e acordou.
naquele arbusto pendiam bagas vermelhas."


Risoleta C. Pinto Pedro



3 comentários:

  1. Este livro aguardou sem estar à espera e sem saber que iria ser abençoado por Luiz Pires dos Reis, editor visionário das Edições Sem Nome, e por Susana Chasse, a pintora do meu alumbramento. Imensa e amorosa gratidão *

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  2. O Secriptos foi apresentado e partilhado dia 10 de Março de 2014 no Café Tati que muito carinhosamente o acolheu.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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