L'a Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens.

Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.



quinta-feira, 10 de maio de 2018


Vou continuar a ler-te, a encontrar-te nas ruas desta cidade, nos lugares em que caio ou me reapareço, que me chamam para me insatisfazerem nas escrituras dos tempos. Já estou a falar em várias línguas, o seu espírito aperta-me, possessivo, largo-o, excepto quando o não posso pronunciar ou quando o meu corpo tem fome de sacrifícios. Entro neste convento, caio imediatamente numa imensidão impensável, as asas dispensam-me. É meio dia, pego n'A Insustentável Leveza do Ser, quero ler-te neste estado impensável, vou para os claustros. Sento-me encostada às colunas e leio repetidamente as mesmas frases desta página, perco-as, mas volto a mim, ou melhor, voltam-me os claustros. Está um vento quente e o sol bate-me no peito, descalço-me. Os pés despidos trazem-me - não vou dizer leveza - o cheiro dos arbustos e as geometrias respirados por centenas de anos. Como me vou levantar da alegria deste lugar ?

| da original queda |

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