L'a Dunas (Luísa Sousa Martins) nasceu em Lisboa, que tem por sua terra oráculo, porto e pórtico das suas vi(r)agens.

Os escriptos surgem-lhe por obediência, assinalando imperativo que lhe inspira o cumprir de uma travessia revelatória de profundos, da qual se sente tão-só a decifradora e a primeira leitora.



quinta-feira, 18 de agosto de 2016







Artúrea

Aura cinza branca, orla dourada e quente da montanha, pássaro suspenso nos ventos, lua em bruma cálida, batida, bendita, rochosa, a ama. Brame a ferida no areal a ursa, anfíbia ursa, luzem escamas, vénias d'amor sob a espada na caverna dos mares.

| Salto da gazela - sonhos de uma curandeira |




Por ali andava o cavaleiro, esquecido das cinzas, o sítio era brisa e espera. A morte não se distinguia da véspera, o caminho não saía do mesmo lugar - como no paroxismo da sede num deserto em que todas as linhas do horizonte se tornam iguais ao ponto, prodigiosamente.
Isolda, Isolda.
O mais era poção de chuva suspensa.



| o fantasma |

Na língua de uma legenda cantas e eu respiro. Nos teus olhos, de uma casta querubínica, serrana e azulácea, a máscara. O vigor da ópera é o meu testemunho e o do silêncio que entra pela janela, à noite, e me encontra a ler-te nos lábios: vem comigo.
E eu vou.


Mulheres que acordam com os lobos

na matemática misteriosa da esfera é o encontro que conta, uma indeterminável simultaneidade a tecer o imperativo desencontro, pura respiração. O céu verte assim os sopros arcanos, as perdições medicinais, os mares e as marés, os bosques e as árvores, os sóis e as luas, os gemidos nas noites virginais,
e o olfacto.



vim a ti, irmã de profundis,
no teu coraçao está o meu coração
ai
sinto as narinas grutas batidas de mar, os ouvidos a surdina destes fundos, as têmporas rebentam-me as costuras do sangue, morro-me, elegia-me teu neptuno canto, leva-me em teu dorso ao areal.


no dorso da baleia | Salto da gazela - sonhos de uma curandeira |